Clair Obscur: Expedition 33 reinventa os RPGs por turnos com emoção e ousadia

Clair Obscur: Expedition 33 é um RPG por turnos desenvolvido pela Sandfall Interactive, um estúdio independente francês que surpreendeu o mundo dos games em 2025. Disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, o título chegou diretamente ao Xbox Game Pass no lançamento, facilitando seu acesso a uma ampla base de jogadores.

Ambientado em um mundo inspirado na Belle Époque francesa, devastado por um evento catastrófico chamado Fratura, o jogo acompanha a jornada da Expedição 33 — um grupo de jovens de 32 anos que têm apenas um ano de vida restante. Isso porque, todos os anos, uma entidade enigmática conhecida como A Artífice pinta um número em um monólito, condenando à morte todos os que completarem aquela idade. Com essa premissa sombria, o jogo mergulha o jogador imediatamente em uma atmosfera tensa e emocionalmente carregada, onde a beleza estética contrasta com a tragédia iminente.

História

A narrativa é, sem dúvida, um dos pontos mais fortes de Clair Obscur. A ideia de saber exatamente quando você vai morrer — e que não há escapatória — é angustiante e dá profundidade à trama desde o início. A Expedição 33 sucede outras 67 tentativas fracassadas, o que adiciona uma camada de desespero e responsabilidade à missão dos protagonistas.

Os personagens principais — Gustave, Maëlle e outros — são bem construídos, com histórias pessoais marcantes e conflitos internos palpáveis. Os diálogos são naturais e equilibram bem os momentos de tensão com toques de leveza. As reviravoltas são inesperadas e intensas, e a narrativa, que começa simples, ganha complexidade ao abordar temas como luto, esperança, arrependimento e sacrifício.

A única ressalva é que, em certos momentos, o ritmo narrativo acelera demais, dificultando um maior desenvolvimento de personagens secundários. Ainda assim, é uma das tramas mais impactantes e bem escritas do gênero nos últimos anos.

Jogabilidade e Desempenho

O sistema de combate é onde Clair Obscur realmente inova. Ele combina mecânicas clássicas de RPG por turnos com elementos de ação em tempo real, exigindo reflexos rápidos para esquivas, aparos e contra-ataques via Quick Time Events. O resultado é um sistema dinâmico, desafiador e muito envolvente, que transforma cada batalha em uma espécie de dança estratégica.

A personalização dos personagens também impressiona: com o uso de Pictos e Luminas, é possível montar diferentes builds e experimentar combinações variadas de habilidades, adaptando o estilo de jogo ao seu gosto.

Fora das batalhas, a exploração é funcional, mas limitada. O mapa-múndi segue um estilo clássico dos JRPGs, com áreas interconectadas, mas carece de recursos como minimapa ou marcadores, o que pode tornar a navegação em masmorras um pouco confusa.

No quesito desempenho, testado nos consoles de nova geração, o jogo se mostrou bastante estável, rodando a 60 fps constantes no modo de desempenho. Algumas cutscenes apresentaram pequenos problemas de sincronia labial, mas a desenvolvedora já prometeu um patch corretivo.

Direção de Arte e Trilha Sonora

Visualmente, Clair Obscur: Expedition 33 é deslumbrante. Criado na Unreal Engine 5, o jogo apresenta cenários que mesclam a sofisticação da Belle Époque com o surrealismo fantástico: florestas vermelhas, ruínas cobertas por vegetação e arquiteturas de tirar o fôlego. A direção de arte é marcante e merece destaque — muitas vezes, o visual é tão impactante que é impossível não parar para apenas admirar.

Os inimigos possuem designs únicos e, por vezes, perturbadores, o que contribui para a atmosfera sombria do jogo. As cutscenes são cinematográficas, com ângulos de câmera bem trabalhados, especialmente nas batalhas contra chefes, que ganham um ar épico.

A trilha sonora é impecável. Cada música é cuidadosamente composta para intensificar a emoção das cenas, desde batalhas tensas até diálogos introspectivos. A dublagem em francês, utilizada nesta análise, entrega emoção e autenticidade, e a localização em português brasileiro é de altíssimo nível, com legendas bem adaptadas. Um destaque vai para a música tocada quando um personagem morre — uma melodia melancólica e memorável que permanece com o jogador mesmo fora do jogo.

Conclusão

Clair Obscur: Expedition 33 é uma das maiores surpresas do gênero em 2025. Com apenas 33 integrantes, a Sandfall Interactive conseguiu criar um RPG que rivaliza com produções AAA em narrativa, jogabilidade e apresentação.

Apesar de alguns deslizes pontuais — como a exploração limitada e o ritmo narrativo acelerado em alguns trechos —, o jogo entrega uma experiência emocional profunda, visualmente impressionante e mecanicamente inovadora.

Para fãs de RPGs por turnos, é um título obrigatório. E mesmo para quem não é familiarizado com o gênero, o jogo tem potencial para conquistar pelo seu enredo envolvente e apresentação de altíssima qualidade.

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Essa análise é uma opinião do autor: Matheus Lopes.

Editor de texto: Gian Lucca (Player Fox)