A franquia Assassin’s Creed é uma franquia que dispensa apresentações, afinal, é muito conhecida e prestigiada atualmente no universo dos games. Entretanto, é interessante notar que o ponto de partida dessa série de jogos não é tão popular ou prestigiado assim:
Sendo lançado em 2007 para o Xbox 360 e outros consoles daquela geração, o primeiro AC (Intitulado como ‘Assassin’s Creed’ mesmo) é de uma importância fundamental tanto para a franquia quanto para o mundo dos jogos como um todo, adotando elementos que seriam reutilizados posteriormente pela própria Ubisoft e outras desenvolvedoras, e é ele que irei analisar aqui, mas já digo que é uma experiência interessante, mas muito, muito longe de ser excepcional.
História e ambientação
É interessante observar como esse jogo, mesmo não sendo o primeiro cronologicamente, é perfeito para introduzir a Irmandade dos Assassinos e os seus maiores rivais, os Templários. Um conceito que é muito trabalhado no jogo é o significado de “Irmandade”, algo que é muito salientado a partir das características do protagonista, Altair, um assassino que, inicialmente, é extremamente arrogante e que se considera auto suficiente, dando início a essa série de questões sobre o que é a Irmandade e qual é o papel dos Assassinos no mundo e, em especial, naquele contexto do jogo.
Afinal, a característica que é primordial em todos os “Assassin’s Creeds” são a sua ambientação e a sua locação, e aqui não falo só de espaço, mas também de tempo. No primeiro jogo da franquia estamos localizados na região de Jerusalém, no século XIII, em meio àquele clima de hostilidade e confronto que há nas Cruzadas organizada pela Igreja Católica para Conquista da Terra Santa.
Nesse contexto, os Assassinos devem libertar as principais cidades daquela região do domínio dos Templários que são uma espécie de “chefe” daquelas cidades e que fazem parte de um esquema de cooperação e beneficiamento entre eles. Sendo assim, o Assassino enviado para… assassinar cada um desses templários nessas diferentes cidades é o Altair, e ele é enviado após cometer um grande equívoco em uma missão no início do game, que, como consequência, causou a morte de um outro assassino, gerando todos esses questionamentos ditos anteriormente.
Bem, aqui entra um dos aspectos que Assassin’s Creed “1” mais acerta: o desenvolvimento de Altair. É visível como o protagonista do jogo evoluí do início até a sua conclusão. Afinal, Altair precisava se redimir por aquilo que fez no início da campanha e ter de volta a honra que tinha com a Irmandade. Nesse processo, ele vai entendendo o que realmente significa ser um Assassino e qual a função dos Assassinos, em especial ao que tange aos civis, deixando de lado a arrogância que tinha antes.
Outro aspecto que é muito certeiro em Assassin’s Creed é a ambientação, ou melhor, as ambientações. O Jogo se passa em três cidades principais: Acre, Damasco, e Jerusalém (além de Masyaf, a cidade governada pelos Assassinos). É interessante ver como cada uma tem uma espécie de identidade própria, algo que acaba refletindo inclusive na tonalidade de cores que é utilizada em cada uma delas. Enquanto Acre é mais acinzentada e mais sombria, Damasco fica num tom de amarelo e laranja, que passa uma ideia de vivacidade, e Jerusalém fica no meio-termo entre as duas, num tom mais azulado. Aliado a isso, é interessante ver o cuidado que a Ubisoft possuí para fazer essas locações o mais crível possível, tornando-as quase verossímeis mesmo, algo que é impressionante.
Cidade de Acre
Cidade de Damasco
Cidade de Jerusalém
Paralelamente, o jogo também mostra o que acontece nos dias atuais, já que tudo o que acontece nos tempos antigos é acessado a partir de memórias, utilizando o Animus, das indústrias Abstergo, uma máquina em que se pode acessar as memórias de seus antepassados. E, para acessar essas memórias especificamente, eles sequestram Desmond Miles, que tem como ancestral o Altair. A Abstergo fez tudo isso por ter interesse na localização de um artefato muito poderoso.
Desmond Miles no Aminus
A parte da história que se passa no presente é bem menos interessante que a do passado, ainda assim, os personagens do presente tem lá seu destaque em alguns pontos específicos do jogo. Mas, resumidamente, a história como um todo é muito interessante devido ao, principalmente, seu protagonista e a sua ambientação. Além disso, apresenta conceitos que são reutilizados e revisitados sempre na franquia.
Jogabilidade e missões
Mais um ponto positivo do jogo é a sua jogabilidade, que eu diria que é a apropriada para ele, especialmente o stealth, sendo muito funcional. Talvez o ponto mais forte dele seja mesmo o stealth, uma boa parte de suas quests são cumpridas a partir dele. Para quem gosta isso aqui é um prato cheio, apesar de que o jogo também tem o combate direto muito presente.
Aliás, as missões são meio que classificadas em “tipos”, e em cada tipo você faz alguma coisa diferente. Esses tipos são:
. Eaversdrop (ouvir por acaso)- No qual sentamos em um banco e escutamos uma conversa sobre algo importante.
. Pickpocket- Missões em que temos que roubar de alguém um mapa ou algo do tipo sorrateiramente
. Informer- Missões em que temos que fazer algo para algum informante em troca de informações, seja assassinar um ou mais alvos, acompanhá-lo até a saída da cidade(a pior de todas), ficar coletando bandeirinhas etc.
. Interrogatório- No qual brigamos com algum agitador na rua para obter alguma informação que ele saiba, depois disso o assassinamos.
. Salvar cidadãos- Um grupo de guardas está importunando alguma pessoa, e temos que salvá-la (essa, especificamente, é uma missão opcional, “secundária”).
Exemplo de Eaveasdrop
Exemplo de Pickpocket
Tirando a última citada, as outras missões são meio que obrigatórias para a campanha principal. Funciona assim: quando você chega em uma das cidades, se faz a sincronia em alguns pontos altos, que liberam as missões para serem cumpridas. São necessárias, no mínimo, 3 missões de investigação (dentro desses tipos citados) para desbloquear a memória de assassinato daquele Templário que devemos assassinar. Nessa memória de assassinato, é praticamente obrigatório utilizar o combate do jogo, que também é funcional.
Utilizando mecânicas simples, esse combate é extremamente prático e dinâmico, na hora em que ele se faz necessário como quando, por exemplo, somos detectados em alguma missão por algum soldado e temos que lutar, ou como disse anteriormente, nas lutas contra os chefes.
Infelizmente, nem tudo são flores nesse jogo. Um problema que ele começa a apresentar a partir do meio até o seu final é a repetição excessiva, em especial das missões. Toda vez que você assassina um alvo, você tem que voltar para ilha de Masyaf, fazer seu relatório para Al Maulim, os chefes dos assassinos, e daí deve-se matar o próximo Templário. E toda vez é necessário escalar de novo os pontos altos, dar o salto da fé e fazer as 3 missões obrigatórias. O problema é que não há uma variação das missões, ficam sempre nesses tipos citados anteriormente, ou seja: você faz missões quase idênticas a cada novo Templário que você deve assassinar, logo a sensação é que você faz a mesma coisa o jogo inteiro, e não é uma sensação boa, ele se torna muito maçante e obviamente muito repetitivo.
Sincronizando/ fazendo o Salto de fé em Damascus
Assassin’s Creed não é um jogo muito longo, se feita apenas a campanha principal. Ainda assim, nas últimas horas de gameplay, é perceptível como o jogo se torna cansativo e desgastante. Algo que também é curioso são as últimas Memory Blocks (que, de forma mais chula, são uma espécie de capítulos do jogo) que parecem ser mais longas que as primeiras. E, pessoalmente falando, nesses momentos finais eu estava jogando com mais afinco porque queria ver logo a conclusão da história que estavam construindo ali. Mas o estranho é que quanto mais eu jogava mais o final parecia distante. Eu acabei me encontrando num dilema: Era o jogo que não acabava mais, e eu não via a hora dele simplesmente terminar.
Outro fator que ajudou a reforçar essa ideia de repetição que o jogo possuí são as infindáveis batalhas que ele tem no seu grand finale. Basicamente, você batalha, depois batalha mais uma vez, e de novo, e de novo, e de novo. Eu realmente não entendo para quê colocar tanta batalha assim no final do jogo. Até há uma certa justificativa para isso no contexto do que estava acontecendo ali (e eu não quero me adentrar para não estragar a experiência de alguém que não tenha jogado ainda), mas penso que o problema em si não é de fato a quantidade, mas sim a forma como é feito. Veja bem: não há nenhuma espécie de desafio ou dificuldade nesses confrontos com aqueles guerreiros ali, é a mesma coisa sempre. Nem quando se luta com mais soldados por vez há um diferencial de dificuldade ou uma espécie de empecilho para continuar a campanha, o que acaba tornando essas batalhas sem sentido.
E, quando você finalmente acha que o jogo terminou, não: ainda faltam umas 4 batalhas pela frente.
Imagem- As (Infindáveis) batalhas finais
Mas o pior disso tudo foi a batalha final: de novo, não há nenhuma modificação na dificuldade ou na própria jogabilidade do jogo, o que é ilógico, já que (em tese) enfrentamos um inimigo muito mais habilidoso e mais poderoso que o Altair, logo era esperado que fosse mais dificil, o que não acontece.
No final das contas, eu chego a conclusão que a verdadeira dificuldade ou desafio que há em Assassin’s Creed I seja chegar a realmente terminá-lo…
Alias, falando sobre os inimigos, a IA nesse jogo é meio hardcore, meio inacreditável. Quando eles começam a perseguir Altair nas cidades, eles fazem de uma maneira feroz (o que até é compreensível), mas depois eles desistem e simplesmente pulam dos telhados das edificações. Eles também realizam uns saltos, umas acrobacias bem fora da realidade. Está certo que se deve ativar o senso de descrença em Assassin’s Creed, mas essa IA ultrapassa todos os limites do que é cabível num jogo como esse. Um exemplo que ilustra isso perfeitamente é uma vez em que eu estava fugindo e me escondi, os soldados pararam de me perseguir, e então eles simplesmente pularam do telhado de uma casa e caíram mortos no chão. Acho que os coitados devem ter desistido de viver…
Mas pode ser que eu esteja errado. Talvez eu esteja falando besteira aqui e a Ubisoft tinha motivos históricos para fazer uma IA assim. Vai ver para ser soldado de uma daquelas cidades no século XII precisava saber “fazer parkour” e ter aspirações suicidas.
Veja a ação dos inimigos ao fundo
Enfim, outra coisa que eu achei bem curioso nesse jogo são os bugs: eu não presenciei muitos, a maioria dos que eu vi são apenas cômicos mesmo (como alguém correndo tentando atravessar a parede), mas um específico realmente me atrapalhou. Eu estava numa missão de assassinato e fiquei simplesmente preso dentro de uma casa, como se tivesse um teto invisível, e infelizmente tive que encerrar a missão, que estava quase terminando o que foi muito frustrante.
Veja o vídeo:
Não são problemas tão graves assim porque não são tão frequentes, mas ainda acho que faltou um polimento nesse sentido para esse jogo.
Enfim, fato é que o jogo é extremamente repetitivo e não sabe como manter um bom ritmo na sua segunda metade. No entanto, esse nem é o ponto negativo mais frustrante dele: como dito, é necessário continuar fazendo essas missões idênticas e as batalhas que não terminam para chegar no final do jogo. Mas o problema é que o final é muito ruim, muito anticlimático.
A sensação que dá é que a minutagem do jogo já estava muito alta e simplesmente decidiram fazer um corte ali, é algo muito estranho, o famoso “acabou sem mais nem menos”. O que, na verdade, é bem decepcionante, até porque não custava nada dar um final decente para esse jogo.
Eu nem vou adentrar no final da história, na parte do passado, por conta de spoilers, mas no presente, na custcene final do jogo, o descendente de Altair que estava usando a Animus começa a “ver coisas” nas paredes, alguns símbolos incompreensíveis, mostrando que ele “herdou” o olho de Águia. Ele também descobre que não foi o único a acessar as memórias de seus ancestrais. E o jogo acaba e os créditos rolam na tela.
Eu não sei se eles estavam tentando explicar alguma coisa, não sei se estavam tentando criar um gancho ou hype para um segundo jogo (apesar de que acho difícil que nessa altura do campeonato alguém ainda estivesse com ânimo para o que quer seja), só sei que não deu certo e ficou meio destoante com o que tivessem apresentado até ali.
Final- Assassin’s Creed
Mas enfim, concluo dizendo que Assassin’s Creed é um importante pontapé inicial para a franquia, introduzindo elementos que são e ainda serão reutilizados pelos próximos jogos da série. A história é interessante e perfeita pra introduzir os Assassinos, e o Altair é um protagonista realmente sensacional. Contudo, o jogo se perde no meio do caminho com uma campanha extremamente repetitiva e cansativa, que quase coloca tudo que o jogo tem de positivo a perder.
Se fosse um jogo mais compacto com horas a menos de gameplay, com menos missões ou então com menos chefes e subchefes, acho que seria praticamente perfeito. Afinal, um material rico e denso de história e de personagens não era o que faltava aqui.
Em resumo, não é, nem de longe, o começo mais promissor ou animador que a franquia poderia ter, por isso, não recomendo que alguém comece essa série de jogos por aqui (pois as chances de desistir são altíssimas), mas sim àqueles que já jogaram outros Assassin’s Creed e que ainda não jogaram o primeiro jogo da saga, tendo o interesse (e a força de vontade) em jogar pois, conseguiriam aproveitar tudo de bom que ele tem a oferecer.
Essa análise é uma opinião do autor: Subzero
Editor de texto: CaixistaFox
- A história é um importante pontapé inicial
- Protagonista
- Gameplay
- Poucos bugs que atrapalham
- Cenário
- IA
- Falta de dublagem/legenda
- Missões repetitivas
- Final