Antes de tudo é bom relembrar que uma análise reflete a opinião pessoal de um autor sobre o jogo, cada pessoa pode ter uma experiência diferente, por isso se você discordar de algo escrito nessa análise saiba que isso é apenas uma opinião pessoal do autor.
Lançado em 2016 para Xbox One, PC e outras plataformas, Tom Clancy’s: The Division é um grande acerto da Ubisoft por dois fatores principais: por sua jogabilidade e sua ambientação que acertam em cheio, mesmo que o jogo não seja isento de falhas, obviamente, e que tenha uma fama de ser
extremamente difícil. Se isso procede ou não, você descobre na análise a seguir.
Ambientação e História
Bem, começando essa análise por onde o game se destaca, não poderia deixar de ressaltar como a ambientação de The Division é pontual. Situado em uma New York em ruínas pós-eventos catastróficos de uma contaminação viral (olha só?) que dizimou uma parte considerável da população da cidade, o game nos traz a perspectiva da resistência, da luta por sobrevivência e da reconstrução da cidade. Afinal, não foi apenas o vírus que transformou a ‘cidade-luz’ naquilo que vemos no jogo: vários grupos criminosos (como os Rikers, cremadores, etc) se instalaram em diferentes localidades do ambiente, sendo papel da Division (órgão federal especial do governo americano) “limpar a bagunça” e trazer New York de volta as cinzas, de volta a aquilo que fora um dia.
O que chama a atenção nessa ambientação é que ela consegue convencer a partir de elementos simples da cidade do jogo, como por exemplo as ruas quase desertas, todas as lojas fechadas ou destruídas, a forma como os NPC’s agem, marginais assassinando e posteriormente roubando cidadãos na calçada, todos esses detalhes, por menores ou mais irrelevantes que pareçam ser, são importantes para construir a atmosfera de um lugar quebrado, apocalíptico, sujo, corrompido.
Ousaria dizer que é um jogo verossímil, consegue criar/emular um ambiente crível de um contexto
catastrófico como o apresentado.
Outro aspecto da ambientação que achei interessante foi a estação do ano escolhida: O jogo se passa no inverno norte-americano (tendo referências visuais ao Natal), ou seja, tudo está sempre coberto de neve e com chuvas constantes, o que reforça ainda mais a sujeira que aquele lugar se encontra. E a questão climática reflete na gameplay: quando há chuvas de neve, o jogo fica opaco, é difícil enxergar os inimigos, tendo que determinar estrategicamente a hora de partir para o ataque e a hora que não é, ou então utilizar alguma estratégia de batalha que se adapte a uma condição adversa como essa.
Felizmente, a situação da história (a campanha principal) é a mesma da ambientação: conseguiram desenvolver essa ideia de forma perspicaz, apresentando vários grupos e facções que se apoderaram da cidade após esses eventos, o que creio que realmente ocorreria se houvesse uma catástrofe dessa magnitude, cooperando para a verossimilhança dita anteriormente.
E o mais interessante disso tudo é poder observar como esses grupos estavam tão conectados, tão firmados no miolo da sociedade nova-iorquina, já impactando em eventos anteriores a contaminação em massa, o que apenas aumentou o domínio dos líderes da facção sobre a cidade.
Um recorte bem atual da situação de vários países.
Outro ponto positivo da história é como ela consegue elaborar uma explicação plausível para o vírus, com conceitos firmados nos estudos científicos atuais (algo que não seria obrigatório num jogo como esse), e dá uma atenção especial ao vírus, com várias missões principais (e secundárias) para tentar desvendar o mistério de como ele surgiu, de quem está por trás disso tudo, e também uma forma de buscar uma vacina para esse male e poder retomar a cidade a partir dela.
Também é interessante ver como a Division é retratada no jogo, uma organização militar que consegue exprimir um sentimento de comunidade em torno de si muito interessante, com os agentes sendo quase que vigilantes naquele contexto, eu diria. Além disso, o final da história da The Division consegue passar o sentimento de que tudo valeu a pena, o que apenas enriquece a experiência com o jogo.
O jogo começa a pecar na progressão da história: Após a missão introdutória somos jogados num mapa relativamente grande e temos a opção de fazermos as missões que quisermos na ordem que quisermos, afinal é um jogo de mundo aberto então isso não seria novidade. Contudo, o que acho
problemático nisso é a forma como foi feito: Você completa na ordem que preferir, em um estágio mais avançado da história, por exemplo, eu pude realizar uma missão principal que, posta em uma timiline do jogo, estaria após os eventos de outras missões principais que eu não tinha feito naquele
momento, o que no final das contas pode atrapalhar o entendimento da história do game, e é algo extremamente fácil de resolver.
Outro ponto que eu não diria que é um problema, mas sim uma questão a ser pensada no jogo é que é uma história ampla, ou seja, toca em vários pontos diferentes, como o vírus, corrupção dentro da Division, gangues invadindo certas localidades, tudo ocorre ao mesmo tempo e continuamente, ou seja, o jogo lida com um grande volume de informações ao mesmo tempo que pode confundir um pouco.
E, essa questão dele ser um jogo amplo influencia bastante nas missões secundárias e encontros, que trabalham pontos ainda mais específicos do jogo. Mas, em relação a história do jogo, diria que é envolvente e interessante, consegue fazer com que o jogador se envolva com aquele mundo caótico e se interessar por ele.
Missões secundárias e mapa
E em relação as missões secundárias, diria que existe uma grande variedade delas: missão para encontrar pessoas desaparecidas, para enfrentar gangues criminosas, derrubar subchefes de esquemas, entre outras coisas que torna o jogo menos repetitivo.
Contudo, existe um tipo de missão secundária chamada de “encontro”, que são bem mais repetitivas e desnecessárias, a maioria (senão todas) está ali realmente para evoluir o nível do jogador para conseguir cumprir uma missão mais relevante, mas sinceramente é melhor cumprir várias missões
secundárias do que encontros com esse intuito de evoluir, pois muitos deles são quase idênticos senão totalmente iguais, o que acaba ficando bem maçante, além de ter um volume considerável de encontros no mapa. Ou seja; é uma coisa bem desanimadora fazer esses encontros, em alguns
momentos.
Esse grande volume se dá pelo tamanho do mapa, que é dividido em várias regiões cada uma tendo um nível e dificuldade diferente das demais. Além de encontros, é possível realizar outras atividades observando no mapa, como explorar a cidade mesmo, cheia de itens e ecos (basicamente eco é fragmento de alguma memória que ocorreu aquele local) para encontrar, além das ditas missões secundárias, ou seja: Tem bastante coisa pra fazer nesse jogo, passa bem longe de ser um jogo tedioso, talvez repetitivo se você focar nos encontros, mas isso é algo subjetivo.
Além desses elementos, no mapa estão os esconderijos da The Division além da Zona Cega. Os esconderijos são os locais de renascimento e onde é possível comprar itens especiais como armas, roupas, equipamentos etc. Existe um “esconderijo geral”, há uma divisão dentro desse esconderijo
maior e a partir dessa divisão podemos fazer com que a Division (e o nosso personagem) evolua, sendo então dividido em três seções: Tecnologia, Segurança e Saúde (encontros e missões principais também são divididos nesses critérios). E a partir da XP ganhados nas missões e encontros podemos fazer com que a Division evolua e em troca ganhamos novas habilidades e talentos, o que é bem útil no “campo de batalha”.
E, por fim, a Zona Cega que é uma “terra-sem-lei”, funcionando quase como um multiplayer online separado do jogo, o qual você pode explorar pegando itens de outros jogadores deixados lá, mas caso você morra antes de sair, seus itens também ficam lá, para você ou outra pessoa pegar,
reiniciando esse ciclo.
Conclui-se então que existe uma gama de atividades possíveis dentro do mapa. E felizmente, a maioria delas não é chata ou maçante, devido a principalmente sua jogabilidade fluída.
Jogabilidade
A jogabilidade desse jogo é bem interessante. Sendo um RPG de tiro tático em mundo aberto, Tom Clancy’s: The Division é um jogo de ação em todos os sentidos, o “combate” é algo rápido, intenso, bem dinâmico e fluído. O Stealh aqui e o ataque furtivo perdem completamente a vez, mas é o que
se espera de um jogo que aborda um tema como esse.
Sendo em terceira pessoa, temos que atacar o inimigo e nos proteger atrás de cobertura durante o embate; durante o tiroteio. A partir daí, temos algumas opções de formas de atacar o inimigo, equipamentos fornecidos pela Division, principalmente as armas com uma grande variedade delas disponíveis, divididas em 3 compartimentos (ou seja, você pode equipar três armas ao mesmo tempo), dentre elas snippers, metralhadoras, rifles de assalto e de precisão no geral, além de pistolas.
Há também as granadas, com infindáveis tipos desses explosivos; granada de choque, granada de fumaça, granada dos cremadores, e etc. Também temos um gadget que começa a atirar continuamente ao perceber o movimento do inimigo, mas que tem um tempo de duração relativamente curto. Por fim, há um gadget “de cura”, que aumenta a vida do jogador e de aliados na área de abrangência do equipamento, também por um certo período de tempo. Tais funcionalidades ajudam -e muito- na hora de batalhar contra essas gangues. Como vocês podem ver no vídeo abaixo:
E, ainda em relação a jogabilidade, The Division possuí a fama de ser difícil, complexo, quase impossível de ser concluído em modo singleplayer, apenas com amigos no coop. Algo que tem um senso de verdade mas não é completamente.
Dificuldade
Agora é hora de tirar o ‘elefante da sala’. Vamos lá.
Na minha perspectiva, The Division é um jogo que demanda muito do seu jogador, por tudo que ele/propõe e pelo volume de atividades que é possível realizar nele. É um jogo vasto, denso. Mas isso não significa necessariamente que ele é um jogo difícil.
Considero que dois fatores são essenciais para dar essa fama ao jogo: primeiro e o mais óbvio, pela dificuldade dos inimigos, e segundo, por não ser um jogo muito intuitivo.
Sobre o primeiro fator: o nível dos inimigos estão sempre de acordo com a área deles no mapa ou com o nível proposto nas missões, mas “o que pega” são os chefões, ou os subchefes, que possuem uma barra de vida absurda e por isso bem mais complicados para abater. Mas isso também é algo ligado ao segundo fator.
Veja bem: O jogo “nos joga” naquele mundo cheio de missões pra cumprir, sem nos pôr a par das diversas habilidades equipamentos que facilitariam na hora do trabalho difícil. Nesse sentido que digo que não é nada intuitivo, você acaba descobrindo as coisas por si só. Um exemplo real disso é que descobri a existência do equipamento que aumenta sua saúde dias antes de concluir o game, o que facilitaria muito as coisas nas batalhas anteriormente.
E essa questão está diretamente interligado com as questões dos chefões pois com essas habilidades enfrentá-los não é um desafio tão grande assim, mesmo que continue sendo trabalhoso.
Ademais, isso está relacionado com o tempo que se demora para evoluir e ter experiência no jogo, o que é um processo longo e demorado. E, quanto maior o nível, mais difíceis serão os desafios.
Por fim, um fator que coopera pra dificultar o jogo é o tamanho das missões principais: a maioria delas você concluí em 1h30 até 3 horas ou mais, como a final. É uma tarde inteira em apenas uma missão, e caso você jogue até determinado ponto mas não concluí, e então o saí do jogo, você perde
todo o progresso daquela missão e tem que começá-la inteira novamente, o que é bem desgastante.
Algo que li bastante sobre The Division é que é possível zerá-lo apenas em coop, ou que singleplayer é impossível de zerar, e etc. É verdade que amigos mais experientes no jogo ajudam e muito nos campos de batalha e para evoluir o personagem, principalmente no início da jogatina, como ocorreu comigo, mas não são estritamente necessários para jogar ou concluir o game.
Conclusão
Por fim, sou capaz de afirmar que Tom Clancy’s; The Division é sim um jogo com certa complexidade, mas não é impossível. Sua fama de ser difícil não é injustificável, mas com as ferramentas (e por vezes a ajuda) necessária o jogo se torna mais palatável e uma experiência menos desafiadora.
Além disso, acho a proposta de The Division tão interessante que deve ser abraçada de todas as maneiras possíveis, afinal é um jogo que exige muito do jogador mas entrega bastante também, como uma ambientação impressionante, uma contextualização e tema atual, uma jogabilidade fluída, dentre outros fatores que mostram que Tom Clancy’s: The Division é um dos maiores acertos da Ubisoft.
Dessa forma, a todos que desejam se aventurar nesse jogo, desejo-lhes uma boa sorte, e que tenham uma experiência tão bacana como a que eu tive.
Nota: 8/10
Eaí o que vocês acham, vale apena jogar?
Esperamos que tenha gostado!
Essa análise é uma opinião do autor: Sub Zero
Editor de texto: @CaixistaFox